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Coluna: Espetáculo "Mutações"

Mutações: Do Caos ao Caminho

Luís Melo / Foto: @LuisMeloOficial

A primeira vez que vi, Luís Melo, atuar, eu fiquei encantada com seu trabalho tão potente. Naquela época, eu era uma jovem atriz que queria se jogar no teatro e seguir minha jornada, e tinha como inspiração, Antunes Filho e Luís Melo. Tive o privilégio de assistir a várias de suas atuações, no Grupo Macunaíma, e do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT).  "A Hora e a Vez de Augusto Matraca", "Paraíso Zona Norte", "Nossa Velha História", "Trono de Sangue", "Epopéia de Gigamesh", "Xica Da Silva" e "Macunaíma", todas sob a direção de Antunes Filho.

Luís Melo no palco, sempre me lembrava das teorias revolucionárias de Antunes Filho sobre o desequilíbrio. Essas teorias foram inspiradas por filosofias orientais antigas, como o taoísmo, que enfatizavam a expansão da mente e a compreensão do corpo e suas ações. Isso, de forma metafórica, era como se ele nos conduzisse até o precipício em busca da verdadeira essência de cada personagem.

A peça "Mutações", com dramaturgia de Gabriela Melão, concepção artística e direção de André Guerreiro Lopes, e a atuação de Luís Melo, Andréia Nhur e Alex Bartelli, está atualmente em cartaz no Teatro Anchieta ,no Sesc Consolação, até 20 de agosto. "Mutações" representa uma jornada introspectiva, uma espécie de peça-oráculo, profundamente filosófica e inspirada no livro das Mutações.

O texto da peça é fundamentado no "I Ching", conhecido internacionalmente como o Livro das Mutações, originado há cerca de 3000 anos na China. Essa obra se baseia na noção de mutação contínua dirigida pelas forças cósmicas Yin e Yang, representando os princípios passivo e ativo, feminino e masculino, sombra e luz. "Mutações" apresenta três personagens: o Ancião, interpretado por Luís Melo, que traz consigo a conexão com o passado , a sabedoria ,a experiência; o Jovem, representado por Alex Bartelli, cuja força juvenil está ligada à ação e energia; e Ela, interpretada por Andréia Nhur, que metaforicamente personifica o fluxo, o vento, a liberdade, agindo como elo entre os dois extremos.

Luís Melo sempre será um ator extraordinário, uma referência inestimável para mim e para muitos colegas de profissão. Sua atuação é de uma sublimidade ímpar, característica dos grandes atores. Como o Ancião, sua interpretação é magnífica, voz e corpo perfeitamente alinhados à essência da personagem, criando uma conexão profunda com a alma do ancião. A luz e a sombra, o passado, e presente juntos, poético, e profundo.

Alex Bartelli, como o jovem, expressa a transformação do caos em ações, expressando-se por meio de gestos precisos e uma voz marcante, criando um contraponto interessante com o Ancião.

Andréia Nhur, por sua vez, é uma atuação à parte, com sua presença libertária e representação da personagem Ela. Sua interpretação, ora abstrata, ora para ser evocativa, de uma Iansã, senhora dos ventos, é dotada de controle corporal, vocal , remetendo a uma deusa intocável que ao mesmo tempo nos conecta ao sagrado. Ela encarna a mulher que é raiz, nutrindo todas as conexões entre nascimento, renascimento, ancestralidade, passado, presente e futuro, gestando, o estar, ou não estar. Ela é um Poema personificado em uma mulher.

"Mutações" é uma peça que penetra na alma, revelando que há tanto a ser descoberta dentro de nós mesmos. Ela nos mostra que as mudanças são inevitáveis ​​e transcendentais, além do alcance de nossos desejos. Esta é uma experiência transformadora. Imperdível !!


Arquivo Pessoal

                                 

Fotos de Ale Catan


Fotos de Ale Catan


Fotos de Ale Catan


Fotos de Ale Catan


Arquivo Pessoal


Arquivo Pessoal


Arquivo Pessoal


LUÍS MELO

Divulgação

 

Quando assisti à peça "Mutações", deparei-me com uma nota no caderno do Sesc na qual Luís Melo expressou um profundo afeto pelo Teatro Anchieta. Com razão, afinal, o teatro foi seu lar durante muitos anos quando fazia parte do Grupo Macunaíma e do Centro de Pesquisas Teatrais, no Sesc Consolação. Tive o privilégio de acompanhar sua carreira por um longo período, testemunhando sua entrega em trabalhos espetaculares. Para mim, ele é uma referência e um mestre, assim como Antunes Filho.

O Teatro Anchieta também ocupa um lugar especial no meu coração. Nele, vivi momentos mágicos ao realizar testes para ingressar nos núcleos de estudos de Antunes Filho. Foi um ponto de partida crucial na minha juventude, onde não apenas fiz amigos, mas também senti-me impulsionada na trajetória teatral. Sempre que piso no Teatro Anchieta, uma viagem no tempo é inevitável. Vejo-me como aquela menina que perdeu o medo da chuva, descendo aquelas escadas em direção ao palco para os Testes. Lembro-me das inúmeras peças dirigidas por Antunes e, sinceramente, a cada ida ao teatro Anchieta, sinto como se sua presença ainda permeia o ambiente. Sua energia e legado permanecem lá, imutáveis.

Após alguns anos, conquistei minha vaga na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, onde tive a sorte de conhecer uma amiga muito querida, uma irmã: Daniela Fossaluza. Ela era, uma alma apaixonada pela escrita, e poesia, Além de ser uma atriz iluminada. Nós éramos duas jovens atrizes imbuídas de milhões de sonhos, duas almas sonhadoras que abraçavam cada aspiração sem temor algum. Daniela, em sua essência seráfica, era como um diamante precioso que o teatro me apresentou, uma ligação que perdura como um laço de irmãs até hoje.

Nós tivemos a ideia de criar um modesto periódico dentro da UNIRIO. Esse jornal se tornou uma plataforma para entrevistar e compartilhar insights de artistas, bailarinos, teóricos e professores de teatro, uma verdadeira comunidade teatral. Lembro até hoje com saudades de todas as vezes que íamos para sua casa, indo da Urca até Niterói, lembro dos nossos chás, das nossas risadas, eram os anos noventa, tive momentos muito felizes ao seu lado e da sua família. Nesse contexto, tive a honra de entrevistar Luís Melo. Fomos procurá-lo, quando ele estava em cartaz, em uma peça de Tchecov, no Rio de Janeiro. A entrevista, contudo, se concretizaria em São Paulo. Sem hesitar, embarcamos na jornada até SP para nos encontrar com ele. Luís Melo demonstrou uma cortesia e gentileza notáveis, recebendo duas jovens atrizes, ainda estudantes em sua casa e compartilhando conosco uma conversa enriquecedora que se estendeu por uma hora e meia.

A humildade de Luís sempre me marcou. Eu me pegava pensando: "Meu Deus, estou diante de Luís Melo!" Quando retornamos ao Rio e publicamos nosso modesto jornal, a reação dos colegas na UNIRIO foi de incredulidade, admirados pelo fato de termos conseguido uma entrevista com ele.

Até hoje, guardo os exemplares remanescentes do jornal, bem como  Seu conselho para uma jovem atriz, que  ecoa até hoje, ele disse : "Uma coisa é certa, no teatro, você não pode pular etapas. vai te fazer falta lá na frente ". Luís Melo estava certo. Ao observar a geração atual de atores, noto muitos obcecados por fama e sucesso, negligenciando as etapas essenciais, subestimando a complexidade do ofício, como se decorar textos fosse suficiente.

O cenário atual, com influencers ocupando o espaço de artistas, causa em mim uma profunda melancolia. Contudo, compreendendo que o mundo evoluiu, o reconhecimento instantâneo pode abrir portas e gerar audiência. Não sou contrária a influenciadores ou participantes de reality shows, cada um trilha seu próprio caminho.

Nem tampouco fingir condenar a fama, o sucesso ou dinheiro. Porém, acredito que a jornada de um ator exige estudo, disciplina e dedicação. A fama deve ser uma consequência do árduo trabalho, conquistada a partir de esforços concretos e não como um presente inesperado.

Luís Melo é um gênio, na minha opinião, uma referência contínua para aqueles que buscam excelência como atores ou atrizes. E concordo que é um fato, que seja, 99% derivado do trabalho, enquanto apenas 1% é atribuído ao talento inato. Não importa o quão talentoso alguém seja, se não houver paixão pelo estudo e uma mensagem a transmitir. Se for para ficar na zona de conforto, o teatro não é o seu lugar, é um lugar para corajosos, que caminham sobre uma corda frágil sobre um abismo.

Se não for para tocar o outro, transformar, refletir, se não tiver nada a dizer, não seja uma atriz ou ator, pois é uma jornada muito árdua, e exige muito do corpo e alma, não é para qualquer um. Fica aqui minha simples reflexão .

Evoé!


Luís Melo / Jornal da Unirio / Arquivo Pessoal

 

FICHA TÉCNICA

Concepção e direção artística: André Guerreiro Lopes
Dramaturgia: Gabriela Mellão
Elenco: Luís Melo, Andréia Nhur e Alex Bartelli
Direção musical e trilha original: Federico Puppi
Cenografia e figurinos: Simone Mina
Iluminação: Aline Santini
Idealização e produção: Azayah
Coordenação de produção: Lauanda Varone
Assistência de Produção: Nayara Rocha
Consultoria "I Ching": Wagner Canalonga
Assistência de Direção e cartaz: Samuel Kavalerski
Assistência de Direção Musical: Ráae
Visagismo: Roger Ferrari
Desenho de Som: André Omote
Operação de Som: André Teles
Operação de Luz: Felipe Miranda
Fotos de Divulgação: Ale Catan
Assessoria de imprensa: Ney Motta

Realização: Sesc São Paulo


MUTAÇÕES


Estreia nacional: 7 de julho de 2023, sexta-feira, às 20h.

Temporada de 7 de julho a 20 de agosto de 2023

Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h.

Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação

Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo

Informações: 11 3234-3000 

Lotação do teatro: 280 lugares 

Valor dos ingressos: R$ 50,00 (inteira) e R$ 25,00 (meia entrada) e R$ 15,00 (credencial plena).

Os ingressos podem ser adquiridos antecipadamente a partir do dia 27/6, às 14h, no site sescsp.org.br, ou a partir dia 28/6, às 17h, nas bilheterias das unidades do Sesc São Paulo.

Classificação: Indicado para maiores de 14 anos

Duração: Aproximadamente 70 minutos


Sobre o Autor:
Silvia

Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário...

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