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A Ascensão dos RPGs Japoneses no Ocidente

Como Final Fantasy VII e Outros JRPGs Conquistaram o Público Ocidental.

Final Fantasy VII é, até hoje, um dos jogos mais importantes da indústria dos videogames. 
Fonte: divulgação

À medida que os jogos eletrônicos de RPG desenvolvidos no Japão ganhavam popularidade no Ocidente, suas narrativas e estética tipicamente orientais refletiam uma cultura e elementos estéticos que, com frequência, pareciam estranhos e distantes das expectativas e experiências dos jogadores ocidentais. Esses jogos, com suas histórias longas, diálogos extensos e tramas complexas, exigiam que os jogadores se aprofundassem mais no texto e na cultura japonesa, diferentemente da ação rápida e da jogabilidade intuitiva comuns aos principais sucessos dos consoles e arcades.

Durante a era do Super Nintendo, período profícuo para esse tipo de jogo, a recepção inicial entre os jogadores ocidentais foi fria. Poucos se sentiam atraídos por esse formato, que priorizava narrativas longas, diálogos extensos e tramas complexas, em contraste com a ação rápida e jogabilidade intuitiva dos principais hits da época. Esses jogos demandavam uma compreensão mais profunda da cultura japonesa, distanciando-se das experiências e expectativas usuais no Ocidente.

Infelizmente esse jogo só ganharia uma tradução oficial muito tempo depois, deixando os jogadores que não entendiam japonês sem acesso a uma das histórias mais cativantes do Super Nintendo.
Fonte: Divulgação.

Diversos títulos não foram localizados para o mercado anglófono nessa época, como Final Fantasy V, Seiken Densetsu 3, Mother 3 e Star Ocean, pois, exceto os jogadores que apreciavam os RPGs tradicionais e estavam familiarizados com a cultura oriental ou que preferiam o sistema de criação de personagens semelhante aos RPGs de mesa, não atingiam os jogadores ocidentais, mais acostumados a jogos com muita ação. Isso também criou uma barreira linguística que somente foi vencida algumas décadas depois.

Com a chegada do PlayStation, o cenário mudou significativamente. O console proporcionou avanços gráficos importantes, com a mídia digital em CD e gráficos tridimensionais, representando uma inovação recente na indústria de jogos. Em 1997, o lançamento de Final Fantasy VII se tornou um marco, não apenas para os RPGs eletrônicos, mas para os jogos em geral. Ele foi um dos primeiros JRPGs a utilizar gráficos 3D em um console, impressionando os jogadores com a transição dos sprites 2D, comuns nos jogos anteriores da franquia, para ambientes 3D pré-renderizados e personagens mais detalhados. Essa foi uma novidade para uma geração de jogadores acostumada com shooters e jogos de ação em primeira pessoa.

Hoje é muito difícil pensar que os jogos precisavam de várias mídias para serem jogados. Final Fantasy VII testou os limites de sua geração.
Fonte: Divulgação.

Em qualquer JRPG, a narrativa é muito rica, e em Final Fantasy VII temos uma história que aborda temas como identidade, ecologia e luta contra a opressão de uma empresa. Esses temas, presentes também no antecessor, ganharam uma abordagem cinematográfica em Final Fantasy VII, com efeitos de magias e invocações que os tornaram mais acessíveis ao público ocidental. Além disso, a profundidade emocional e o desenvolvimento dos personagens, como Cloud Strife e Sephiroth, ressoaram fortemente com os jogadores, criando uma conexão pouco comum em jogos ocidentais da época.

A morte permanente de uma personagem jogável, especialmente uma personagem feminina, desafiou as expectativas dos jogadores, que estavam acostumados a mortes reversíveis ou incomuns em títulos anteriores. Essa temática mais adulta e emocional contribuiu para uma conexão maior dos jogadores com a narrativa, mesmo sem dominar completamente o idioma japonês. A morte tão impactante da personagem, Aerith, levou a diversas teorias especulativas entre os fãs sobre uma possível ressurreição, colocando-os em um constante estado de negação e expectativa quanto ao desenrolar da história.

A morte de Aerith causou uma comoção muito grande entre todos os jogadores, uma vez que era difícil imaginar que alguém tão carismática pudesse morrer de forma tão abrupta.
Fonte: divulgação.

Um dos destaques é a representação detalhada de Midgar, a cidade distópica e opressiva, e do protagonista Cloud Strife, um herói complexo e relutante que carrega consigo muitos traumas do passado. A narrativa traz diversas referências e elementos ocidentais, como a presença de uma grande organização capitalista que domina o local, adicionando um toque levemente cyberpunk ao conjunto. O antagonista Sephiroth, por sua vez, é facilmente odiável, mas ainda assim imponente em sua presença e motivações, contrastando com a jornada de autoconhecimento de Cloud.

O sucesso estrondoso de Final Fantasy VII transformou-o em uma experiência coletiva entre amigos, que trocavam estratégias e debatiam a narrativa. Além das especulações sobre a possível ressurreição da Aerith, os fãs produziam conteúdo relacionado, compartilhando em fóruns suas experiências e expectativas, ampliando consideravelmente o interesse. O jogo também recebeu diversos remakes, incluindo um filme de animação.

O sucesso estrondoso de Final Fantasy VII transformou o gênero, elevando as expectativas. Outros títulos, como Wild Arms, Xenogears, a série Ys e Persona, foram então lançados ou relançados com tradução para o inglês, além de passarem por diversos remakes. Esse marco definiu uma nova referência gráfica e estrutural para os próprios jogos de JRPG.

Esse período se tornou um verdadeiro apogeu para o gênero, pois outras franquias japonesas, como Dragon Quest, Suikoden e Chrono Trigger, também alcançaram maior reconhecimento e popularidade no Ocidente. Além disso, a popularização do Playstation 1 trouxe gráficos 3D, trilhas sonoras orquestradas e uma escala épica nunca vista nos JRPGs, contribuindo para que o público ocidental aceitasse melhor o gênero.

Jogos do tipo First-Person Shooter, ou FPS, ganharam não apenas melhorias mecânicas e gráficas, mas passaram a conter grandes histórias, com muitas reviravoltas em seus enredos. A série Bioshock, por exemplo, não existiria como existe hoje sem os JRPGs.
Fonte: Divulgação.

Esse sucesso também ajudou a mudar a própria indústria de games fora do Japão, com companhias ocidentais procurando emular o modelo narrativo e estético japonês em seus próprios títulos. Temos jogos como Bioshock, Mass Effect e The Witcher, que carregam influências evidentes dos JRPGs, como a ênfase na narrativa, no desenvolvimento de personagens e nas escolhas do jogador.

No cinema, especialmente em franquias que valorizam o heroísmo, a fantasia e narrativas grandiosas, também é possível observar a influência dos RPGs japoneses. Filmes como O Senhor dos Anéis e Harry Potter, por exemplo, apresentam personagens cujo desenvolvimento vai além de suas ações, abrangendo conflitos pessoais, dramas e interações emocionais.

Por essa razão, os jogos de RPG japoneses, antes amplamente influenciados pelos RPGs de mesa e jogos eletrônicos norte-americanos, agora também exercem uma influência marcante no ocidente, tanto em termos de narrativa quanto de design de jogabilidade.

Mas o que vem depois? Isso é assunto para outro artigo.

Sobre o Autor:
Fabio Melo

Formado em Letras, especialista em Língua Portuguesa e Literatura, além de alguns cursos aqui e ali sobre língua inglesa. Possuo um site / podcast para falar de música alternativa, faço umas músicas experimentais ruins e sou aficionado por RPG e jogos analógicos (vulgo jogos de tabuleiro).





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