Adolescence, da Netflix: Por Que Todo Mundo Está Falando Sobre Essa Série?
O primeiro episódio já ultrapassou 6,5 milhões de visualizações. Por quê? É a melhor série do ano. Talvez. Mas por que?
O que torna Adolescence tão impactante é a recusa em nos dar um vilão óbvio. Não há uma família disfuncional para culpar. Muito pelo contrário—o protagonista vem de um lar amoroso, com pais presentes. Então, o que deu errado? As redes sociais? Sim, mas essa resposta é fácil demais. Já sabemos dos perigos da internet. Documentários e outras séries já falaram sobre isso antes. Então, o que Adolescence fez de diferente?
Ela mostrou como até os pais mais presentes e bem-intencionados podem falhar em entender seus filhos. E como essa lacuna—entre o mundo que eles conhecem e o mundo em que seus filhos crescem—pode ser mais prejudicial do que a negligência. Eu não sou mãe ou pai, então não posso falar desse lugar. Mas o que me chamou atenção foi ver quantos pais ao meu redor foram profundamente afetados por essa série, discutindo, analisando, se sentindo vistos (ou expostos) por ela. A conversa em torno da série foi muito além do público adolescente. E, segundo o The New York Times, os roteiristas não estavam apenas buscando uma resposta emocional—eles queriam alcançar legisladores. Tá vendo o que eu quero dizer?
Agora, vamos falar do que eu sei—das escolhas de roteiro e produção que fazem essa série funcionar. O diálogo é direto, o ritmo é calculado e não há momentos de drama exagerado. Sem truques narrativos. Sem cenas sensacionalistas de tribunal. Sem uma reviravolta de última hora revelando uma nova verdade. Porque a verdade já está lá desde o início: o garoto é culpado. A série nunca nos pede para questionar isso. Não é um episódio de CSI, onde o mistério é o ponto central. O que diferencia Adolescence é que a história não é sobre ele—é sobre tudo ao redor dele. É sobre o sistema, a cultura, o jeito como as coisas estão fora de ordem, e como essa falta de sintonia cria essas tragédias.
Alguém pode argumentar que o terceiro episódio foi um espetáculo cinematográfico. Eu discordo. Foi uma cena completamente normal. O que a gente testemunhou, na verdade, foi a descoberta de um ator fodidamente talentoso tão jovem—e isso sempre impressiona. Mas não se engane: o fato de ter sido uma "cena de conflito normal" não diminui sua grandiosidade. Pelo contrário, é parte do brilho da produção. E, claro, aplausos para Owen Cooper (Jamie Miller) e Erin Doherty (Briony Ariston), que entregaram performances impecáveis.
Mas tem uma coisa que eu amei na série: ver aqueles pequenos traços britânicos, como chamar todo mundo de "love". Isso me lembrou de uma entrevista do Sir Ian McKellen onde ele fala sobre isso—é algo tão acolhedor e dito com tanta naturalidade, sem segundas intenções. É um detalhe sutil, mas cria um contraste interessante com toda a tensão e desconexão que a série mostra.
E aí vem o plano sequência. Cês gostaram disso né?! Um risco, mas que adiciona outra camada ao impacto da série. Minha opinião? Adolescence acerta porque faz exatamente o oposto do que estamos acostumados. Ela desacelera. Numa era em que as redes sociais nos treinam para esperar cortes rápidos, edições frenéticas e gratificação instantânea, essa série nos obriga a ficar no desconforto, a acompanhar cada detalhe, cada momento, sem chance de desviar o olhar.
E talvez seja exatamente por isso que ela está tocando tantas pessoas.

Roteirista e diretora brasileira baseada em Los Angeles. Fundadora da CURADORIA Story Lab, desenvolve projetos autorais e colaborações, além de fomentar a comunidade de escritores. Além do cinema, compartilha conteúdos nas redes sociais sobre filmes, escrita e lifestyle em LA. |
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