Header Ads

Ainda estamos todos aqui

Fernanda Torres: Atuar é Resistir.

''Nós vamos sorrir. Sorriam!'' 
Foto: Gregg DeGuire

Eu ainda estou aqui, ainda me encontro aqui, envolta em uma ressaca coletiva. Uma ebulição de sentimentos que reverberam em cada canto do país. Me incluo nesse torpor, nesse turbilhão de expectativas que, por um instante raro e precioso, deslocou o Brasil de seu eixo habitual. Pela primeira vez, o Carnaval recuou. Pela primeira vez, todos os olhos se voltaram para um mesmo ponto de luz: "Ainda Estou Aqui".

Fernanda Torres, Walter Salles, Selton Mello, fizeram com que cada coração pulsasse num compasso uníssono. O Brasil torceu. E eu torci. Torci como há muito tempo não torcia por algo que transcendesse o futebol. A esperança tinha um nome e uma face: Fernanda Torres.

Ela encarnou Eunice Paiva com a força de um furacão e a delicadeza de uma brisa. Uma mulher que, tragada pela brutalidade do desaparecimento do marido, Rubens Paiva, tornou-se um símbolo, um grito de justiça . Sua luta era nossa luta. Sua dor era nossa dor. Fernanda, com olhos cheios de memória e voz carregada de silêncio, nos lembrou do que significa resistir. Mas será que bastaria?

O Oscar, foi construído por homens e para homens, mesmo assim depositamos nossas esperanças. Sabíamos que a vitória poderia não vir. Há tantas camadas, tantas entrelinhas que delimitam esse palco. Ainda assim, acreditamos. Fernanda poderia ser a primeira, poderia romper as correntes que nos mantêm à margem.

Mas, quando o envelope se abriu, não era o nome dela que estava ali. Foi, Mikey Madison, por "Anora". Um filme potente, uma atuação sensível, sim. Mas, uma história que no fim, repousava sobre a esperança de um salvador. Anora não se bastava. Ela não era Eunice.

Acho Mikey Madison, uma jovem e talentosa atriz, em Anora, ela interpretou,  uma jovem stripper do Brooklyn, Nova York, que se envolve em um romance inesperado com Vanya, o filho de um oligarca russo. Li outro dia, uma breve crônica, sobre que as vezes nem sempre as grandes atrizes ganham o Oscar. Um fato !!

Demi Moore, também uma extraordinária atriz, no filme "A Substância",  apresenta uma forte crítica social, direcionada a padrões de beleza irreais, e a busca desenfreada pela perfeição.

Sinceramente, Fernanda estava acima das duas atrizes, e merecia levar o prêmio de melhor atriz, mas, o mundo nem sempre é justo.

O gosto amargo da derrota preencheu minha boca como cicuta. Um instante shakespeariano, uma cena trágica sem reviravolta. Mas algo dentro de mim se recusava a aceitar. Fernanda realmente perdeu? Ou seria a grande vitoriosa de uma forma que a academia jamais conseguiria compreender?

A resposta é sim, é o que penso.

Fernanda Torres se tornou mais do que uma vencedora do Oscar. Ela se tornou eterna. Como sua mãe, Fernanda Montenegro, escreveu seu nome entre os deuses do Olimpo. Ela se ergueu acima das estatuetas, acima das formalidades, e se cravou na memória coletiva de um país que ainda luta para reconhecer seus artistas. Ganhou também respeito e reconhecimento internacional.

Atuar é um ofício de coragem. É como atravessar abismos sem rede de segurança, sabendo que, se cair, precisará subir a montanha incontáveis vezes. E Fernanda subiu. Subiu sozinha, sem se escorar em legados, sem se esconder à sombra de sua mãe. Quem diz que foi fácil não entende a dureza do palco, a solidão das coxias. Não é por ser filha da Fernanda Montenegro que foi fácil.

O Brasil é agora o Brasil de Fernanda Torres. O Brasil de "Ainda Estou Aqui". O Brasil da Cultura, do Teatro, da Resistência.

O prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, confirmou que a prefeitura irá comprar a casa onde morou Eunice Paiva e sua família, e transformar, na Casa do Cinema Brasileiro.

O filme “Ainda Estou Aqui”,  foi um grande feito, uma consagração.

Não é sobre prêmios. Nunca foi. 

A arte é para aqueles que não temem os abismos.


‘’ É preciso dar um jeito, meu amigo, mesmo quando o vento sopra ao contrário,

Mesmo quando a estrada se esconde na névoa, e os passos vacilam no chão solitário.

É preciso ser feliz, meu amigo, como quem dança sob a chuva sem medo.

É preciso continuar, meu amigo, como quem guarda o sol dentro do peito.

Mesmo que o dia nasça em tons de cinza, é preciso dar sempre um jeito, meu amigo “

 

          Phil McCarten / The Academy ©A.M.P.A.S.







Revisão: Mariana Mussi

Fotos oficiais gentilmente cedidas para o Estúdio Homies pela The Academy ©A.M.P.A.S.

Sobre o Autor:
Silvia Diaz

Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário...


Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.